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O gás natural diante do tsunami verde

Publicado 18.2.2022

Marcelo Martínez Mosquera, conselheiro da Presidência do Grupo Techint em Energia, fala sobre as vantagens e os desafios do gás natural na transição energética.

Marcelo Martínez Mosquera, conselheiro da presidência do Grupo Techint em Energia, analisa as vantagens e os desafios do gás natural no mundo e na Argentina, e o papel desse combustível na transição energética.

Com uma extensa trajetória no mundo energético e uma visão geopolítica global, Martínez Mosquera comenta alguns dos principais conceitos nessa área.

Tornar-se verde. “Energias renováveis, como os moinhos de vento, proporcionam energia há 2.000 anos. O problema é o volume, a quantidade de eletricidade que eles podem fornecer hoje em relação às necessidades da humanidade se quisermos ser totalmente verdes.”

Papel do gás. “Nos últimos 100 anos obtivemos o desenvolvimento econômico graças aos combustíveis fósseis. Devido às emissões de CO2 que vão para a atmosfera, a longo prazo o gás natural pode ir substituindo o carvão, que emite 850 kg de CO2 por cada megawatt/hora, enquanto o gás natural emite 350/360 kg. O petróleo está no meio do caminho entre os dois.”

“Uma política coerente para ir avançando na descarbonização do mundo deveria ser, a partir de agora, utilizar gás natural e eliminar completamente o carvão da geração de eletricidade.”

Dilema do timing and intensity. “Baseamos a nossa economia no petróleo e no gás natural, e questionamos as virtudes do carvão, do gás natural e do petróleo devido às emissões de CO2. Agora estamos decidindo nos transformar em verdes, mas os substitutos ainda não estão prontos: a energia eólica, a solar, possivelmente a nuclear e, também, os famosos captura e armazenamento de carbono. É uma questão de momento e de intensidade. Nesta década não existe nenhuma possibilidade de eliminar o carvão, o petróleo e o gás natural. Podemos planejar para o futuro, e depois entra a questão do gás como veículo ou ponte para a transição.”

Risco ambiental. “Se o mundo continuar pressionando os combustíveis fósseis sem termos os substitutos, iremos em direção a uma catástrofe de preços ou de crise energética. Os estudiosos do problema, mesmo reconhecendo o problema das emissões de CO2 e os danos que elas estão provocando, começam a oferecer soluções, mas medidas em décadas.”

“Fatih Birol, presidente da International Energy Agency, pega os objetivos dos países do G-20 e os transforma em propostas concretas em cada um dos setores, como aquecimento, eletricidade, etc.”

Gás para transporte. O gás natural é um recurso muito melhor em termos de emissões. Nas cidades, ele é muito amigável por não produzir a poluição gerada pela gasolina e pelo óleo diesel, mas isso exige um impulso, um plano apoiado por todos os setores e talvez também uma punição para as emissões da gasolina e do óleo diesel que forcem economicamente o mundo a se voltar para o uso do gás natural.”

Gás natural, aliado da transição. “Considero o gás natural uma maravilha entre os combustíveis fósseis porque ele é muito amigável, tem um preço muito razoável tanto para o carro elétrico como para gerar eletricidade, mas temos que reconhecer que levá-lo de um ponto do hemisfério a outro tem suas dificuldades. Isso precisa ser feito a 160 graus centígrados negativos, é o famoso GNL (Gás Natural Liquefeito), que se torna muito mais caro no destino.”

“Ao falar do gás natural como ponte para a transição energética, não devemos esquecer que é muito fácil pensar nisso em países que têm gás natural próprio ou próximo, a ponto de poderem fazer um duto. Mas para outros países que precisam transportá-lo de navio é preciso fazer cálculos em nível mundial.”

O potencial de Vaca Muerta. “A Argentina já tem a questão resolvida, e poderia resolver a questão no Chile, no Brasil, se houver os investimentos adequados. Mas, se a Argentina não estabelecer os parâmetros para que esses investimentos venham para Vaca Muerta no volume necessário, não vai dar certo. Mesmo que todos os meses estejam sendo batidos recordes em matéria de produção de gás natural e petróleo, o aumento é de 3% em um mês, de 5% no outro. Estou falando de crescer 100% ou 200%, porque existem as reservas para isso.”

“É preciso que o governo, as empresas, as províncias que são as donas do recurso e os países limítrofes cheguem a um acordo para que, todos juntos, possamos dar a Vaca Muerta o destino que ela merece.”

Futuro em contínuo movimento. “Nos últimos 30 anos ocorreram mudanças tão fantásticas na indústria energética mundial que não há espaço para relaxar. E isso foi até 2020, quando o impulso verde, o que eu chamo de tsunami verde contra as emissões de CO2, ganhou corpo definitivamente depois que Xi Jinping e vários presidentes das principais empresas petroleiras europeias disseram que iam reduzir sua pegada de carbono, o que era inimaginável alguns anos atrás. Agora é preciso estar em movimento contínuo. Porque existe um debate fenomenal sobre como fazer essa transição energética, o que ela quer dizer claramente. Viver no mundo da energia em épocas como esta é um desafio fascinante.”

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