Todas as notícias

“Somos capazes de fazer qualquer trabalho que os homens fazem”

Publicado 23.6.2021

No Dia Internacional das Mulheres na Engenharia, Paula Betto, Jovem Profissional de Jaguatirica II, fala sobre sua carreira e as dificuldades que encontrou durante o curso de Engenharia Civil.

Criado pela Women’s Engineering Society (WES) do Reino Unido, o Dia Internacional das Mulheres na Engenharia é comemorado no dia 23 de junho todos os anos. A data tem como objetivo fortalecer o espaço que as engenheiras vêm ganhando na profissão, ainda majoritariamente ocupada por homens.

Em celebração à data, nesta entrevista ouvimos a experiência de Paula Betto, Jovem Profissional da área de Comissionamento do projeto Jaguatirica II da Techint E&C, usina termelétrica que vai gerar 120 MW de energia ao estado de Roraima.

Formada em Engenharia Civil pela Universidade de Pernambuco em 2017, Paula conta que no campus onde estudava havia apenas 10% de mulheres e que era constante ouvir piadas machistas por parte dos professores, que duvidavam da sua capacidade e de suas colegas apenas por serem mulheres e que engenharia é “coisa para homem”. Porém, ter o suporte da família e uma rede de apoio com outras estudantes foram fundamentais para continuar no curso.

Quais são suas responsabilidades atuais em Jaguatirica II?

Hoje estou na área de comissionamento, sendo responsável pelos subcontratos e gestão das assistências técnicas no site. Apesar da minha formação em engenharia civil e comissionamento não ter essa disciplina definida, acredito que uma das grandes habilidades que o profissional da engenharia tem é a flexibilidade em participar de várias áreas e aportar o conhecimento de sua formação a fim de integrar todas os setores.

Por que decidiu fazer engenharia?

Sempre achei incrível a possibilidade de participar de grandes obras e contribuir diretamente para o desenvolvimento do país e acredito que a engenharia me proporciona isso todos os dias. Olhar para uma obra concluída e que eu fiz parte é um sentimento indescritível e saber que vou criar um impacto positivo na vida de tantas pessoas é também minha motivação para continuar na área.

Sentiu dificuldades do decorrer do curso por ter menos mulheres em geral?

Sabia que teria dificuldades que talvez homens não tivessem simplesmente pelo fato de ser mulher, mas tenho alguns exemplos de mulheres engenheiras na minha família que me apoiaram durante a minha decisão de iniciar o curso. Além delas, encontrei também na faculdade várias outras colegas que passavam pelas mesmas dificuldades que eu. Compartilhar esses problemas e criar uma rede de apoio com elas foi fundamental para continuar com o curso.

Ouvia piadinhas ou já passou por alguma situação preconceituosa por ser mulher?

O meu campus da Universidade de Pernambuco era somente de Engenharia, então tínhamos cerca de 10% de mulheres no campus inteiro. Eu, como diversas outras colegas, ouvimos vários comentários machistas durante todo o curso, e a maioria destes foram feitos não por colegas, mas sim por professores, que diversas vezes duvidaram da nossa capacidade de aprender somente pelo fato de sermos mulheres. Ouvi várias vezes que eu deveria fazer uma “faculdade mais fácil”, que mulher para fazer engenharia devia ter pai engenheiro para herdar a construtora dele, como se uma mulher não pudesse fazer engenharia somente pelo fato de querer ser engenheira. Além de vários outros comentários insinuando que todas as mulheres engenheiras deviam ser lésbicas, porque engenharia é “coisa para homem”, o que é um comentário duplamente preconceituoso. Felizmente eu nunca estive sozinha, fiz grandes amigos e amigas na faculdade, e esses comentários não tiraram o meu foco de concluir o curso e seguir com a minha carreira.

Como você se sentiu quando começou a trabalhar no mercado de construção?

Meu primeiro estágio foi em 2013 e atuei na área de produção de uma obra de 27 prédios residenciais. Foi uma ótima experiência para entender como funcionava o dia a dia de uma obra e reafirmou o meu desejo de continuar com a minha carreira na construção.

Na sua opinião, como a indústria da construção pode se beneficiar de ter mais mulheres em geral?

Eu acredito bastante na diversidade de uma maneira geral, seja na construção ou em qualquer outro setor. Pessoas diferentes trazem bagagens diferentes e proporcionam uma troca de experiência entre elas, contribuem para a criatividade da equipe e fortalecem a inovação na empresa. Um fato também muito importante para incentivar a inclusão de mulheres na indústria da construção, é que elas recebam também as mesmas condições que são dadas aos homens, como salários, benefícios, possibilidade de crescimento na carreira, etc. Somente assim a indústria se renovará e se beneficiará da diversidade. Nós mulheres somos capazes de fazer qualquer trabalho que os homens fazem e precisamos cada vez mais passar essa mensagem para as novas gerações. Temos que lutar para que as próximas engenheiras escutem bem menos comentários machistas do que eu recebi, assim como eu sei que ouvi bem menos “piadinhas” que qualquer engenheira formada antes de mim ouviu.

 

Últimas notícias

Saiba mais